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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Amável Imperfeição.

Nós dois não precisamos ser perfeitos. Não precisamos fazer remakes das minhas cenas de filmes preferidas. Não precisamos dizer eu te amo todo dia. Não precisamos estar juntos o tempo todo.Não precisamos nos presentear com aquilo que o outro tanto queria. Não precisamos adivinhar o que o outro está pensando. Não precisamos ter certeza de que ficaremos juntos para todo sempre. Não precisamos ser o casal que todos gostariam de ser. Não precisamos acordar bonitos de manhã. Não precisamos ter beijos de tirar o fôlego toda hora.
Nós só precisamos ser...bom, algo perto de felizes.Nós precisamos amar a companhia do outro, mesmo que ela não seja tão frequente quanto gostaríamos. Mas que seja inesquecível toda vez que acontecer.
Nós precisamos saber que nos amamos. Simplesmente saber. Sentir, e demonstrar.
Nós podemos criar as nossas próprias cenas de filmes, algo mais próximo da realidade, mais confuso e mais divertido. Nós podemos nos achar feios de vez em quando, mas não ligarmos pra isso...aliás, somos muito mais do que uma carinha de sono e olheiras.
Nosso beijo pode ser variado. Algo mais meigo as vezes, outras vezes algo mais..surpreende. Mas que seja verdadeiro. Que nós nos sintamos bem toda vez que nos beijarmos, que haja carinho..conexão.
Que sejamos o casal que nós gostaríamos de ser, com a nossa implicância, discordância, discussões..com meu mal humor, minha mania de franzir o nariz, com seu vocabulário chulo , com sua falta de humor depois que seu time perde..com nosso imperfeito, porém feliz, amor.

R$ 4,85

" Um suco de abacaxi, por favor." - Pedi a atendente do balcão que usava um batom de cor forte que pouco combinava com sua expressão de má vontade.
Ela devia ter uns 38 anos, mas quem julgasse pelas marcas que o tempo havia deixado em seu rosto, dava mais que isso.
"É 4,85. Vai querer mais alguma coisa?" -                          Dizia enquanto arqueava uma das sobrancelhas em uma ameaça implícita de que eu não deveria querer mais nada. Quase me arrependi de ter escolhido ali pra tomar o suco.
" Não, obrigada. Só isso mesmo. " - Sorri tentando buscar alguma simpatia da dona da boca cor de malva. Foi em vão.
Peguei meu suco e sentei na mesa encostada na janela. Queria que ninguém me notasse. Eu só estava interessada em abacaxi no momento.
Revirei o meu pequeno buraco negro, mais conhecido como bolsa, e peguei a sacola recém saída da livraria e abri o romance comprado, e comecei a lê-lo.
Enquanto começava a entender a narrativa do livro, e me familiarizar com a escrita da autora..senti aquela coisa estranha. Não, não.. o suco caiu bem no meu estômago. Era outra coisa.
Sabe quando você se sente uma presa? E que qualquer movimento em falso pode ser fatal?  Aquela sensação de estar sendo observada. Eu sabia exatamente onde estava a pessoa a me observar, mas me faltava coragem para levar meu olhar até ela.
Continuei a olhar pro livro, com um repentino desinteresse nas palavras que estavam escritas nele. Meu observador continuava com seu procedimento, enquanto a curiosidade estava cada vez mais desperta em mim. A única coisa que meus olhos podiam ver sem focar nele, era sua camisa azul marinho e as mãos cruzando-se, um sinal claro de ansiedade.
Não me parecia ameaçador. Talvez ele também se sentisse uma presa. Mas demonstrava isso de maneira repulsiva. Tomei coragem e levantei meu olhar. Forcei ao meu cérebro para que levasse um ar de distraída as minhas feições. Torci para que tivesse dado certo.
O olhei. Belos olhos castanhos se encontraram com os meus, enquanto lábios - ainda mais belos que os olhos- se reprimiam em um quase sorriso. Pelo menos pareceu um quase sorriso pra mim.
Me encantei. E o semblante dele também demonstrava encantamento. Isso tudo durou uns 3 segundos, até a timidez me fazer desviar o olhar e focá-lo novamente ao livro. Meu suco tinha terminado já fazia tempo, até a espuminha já tinha sumido. Era hora de ir.
Coloquei o livro dentro da bolsa e me levantei. Passei por ele e novamente nossos olhares se encontraram. Me senti tremer por dentro.
Saí do restaurante. E me perguntei...por mais quantas vezes eu desperdiçaria chances como essa.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sem título, sem nome, sem endereço.

2 horas da tarde. Meu corpo doía, mesmo estando em cima de um colchão confortável. Minhas pernas latejavam, meu peito parecia sufocado.
A noite mal dormida tivera efeito sobre mim. Havia sido mais uma daquelas noites de admirar o teto.As imperfeições que o pintor deixou já estavam até gravadas na minha mente, tamanhas vezes que reparei nas mesmas.
Era hora de acordar...  uma hora seria necessário fazer isso. Não tinha mais sono. Mas tinha muito cansaço. Mas aquele cansaço só pioraria se eu continuasse ali..
Reagi. Quer dizer, da forma que foi possível. Levei o dia no piloto automático. Respondendo com sim, não e talvez. Filtrando emoções, descobrindo meus erros. Era apenas eu. Eu comigo mesma. Eu perdida nesse lugar que eu mesma criei.. lugar cujo endereço não dou a ninguém.
Por medo, por insegurança, por precaução. Decidi conviver sozinha com minhas aflições e minhas angústias. Era o que me restava, afinal. Não tinha válvula de escape. Destruí todas elas.
Os que antes compartilhavam minhas emoções, hoje julgam não me conhecer. Não os culpo. Hoje, nem eu conheço mais o que sou. Me sinto presa, estagnada..engessada nessas condições. Não consigo lembrar do que eu era, não consigo dizer o que sou. Me contento com o pouco que sei. Me contento com o pouco que me resta.
Cada dia uma nova experiência. Uma nova forma de tentar acertar. Uma nova forma de buscar a mim, e consequentemente, minha felicidade. Acredito que chegarei a um ponto que será mais suportável aturar a mim mesma, que será mais fácil lidar com minhas vontades, razões, emoções, frustrações..que será mais fácil me conhecer. Talvez assim, acordar não seja mais um tormento.

Devaneios.

Virei a esquina e logo percebi. Havia algo diferente. O dia tinha começado normal pra mim, mas ao virar aquela esquina eu soube..algo ia acontecer. Olhei para os lados, para os cantos, para as dezenas de rostos que passavam por mim - que no fundo pareciam os mesmos, todos sem expressões características - e procurei o motivo daquele ar diferente.
Subi a rampa do metrô, e tive uma leve tonteira ao olhar pra baixo tentando frustradamente buscar meu elemento surpresa.
O vagão que entrei estava cheio, logo só consegui um pequeno lugar emprensada entre dois caras nada amigáveis na janela. Sem opção, fitei a estação que eu estava passar como um fantasma graças a rapidez do metrô. E ali, em meio ao barulho dos trilhos, da conversa fútil das mulheres ao meu lado, no desconforto do meu centímetro cúbico de espaço pra respirar..percebi o que estava diferente.
Não encontrei o amor da minha vida naquele dia, nem ganhei na mega-sena... o diferente era apenas...eu.